Tem um
monstro embaixo da cama dos brasileiros. Trata-se de uma entidade
malévola, que assola a população inflingindo-lhe males terríveis,
que se tornam ainda mais terríveis por serem parcamente percebidos,
pois a fera usa um manto mágico que a faz parecer mais das vezes
benfazeja. Esse monstro se chama Controle de Preços.
Teve uma
época em que políticas de preços controlados fizeram muito sucesso
no Brasil. Quando o então presidente da república José Sarney se
deparou com índices de inflação na casa dos 80% ao mês, sua
equipe econômica, capitaneada pelo Ministro da Fazenda Dílson
Funaro, não apenas idealizou como implementou uma medida
revolucionária: o congelamento geral de preços. Vale ressaltar que
não foi nenhum bando de aventureiros que engendrou tal política.
Estamos falando de ministros, secretários, presidentes, doutores,
mestres, todos balizados pelos mais altos estudos de nossa academia.
São
coisas como essa que me levam a pensar que a genialidade pode estar
nas coisas mais simples da vida. Por que ninguém havia pensado nisso
antes? Ora, se os preços estão subindo em disparado, se nenhuma
medida consegue garantir sua estabilidade, por que não decretar, por
lei, o imediato congelamento de todos eles? A
medida segue o mesmo raciocínio de uma criança que pergunta por que
o governo simplesmente não imprime mais dinheiro para dar aos pobres
e assim acabar rapidamente com a miséria.
Todos
nós, brasileiros, que vimos os “fiscais do Sarney” dedurando o
aumento criminoso do preço do detergente e do sabão em pó, que
vimos gerentes de supermercados serem presos, que não precisávamos
mais sair correndo pra gastar o salário e comprar tudo que podíamos
(porque na outra semana o salário já não valia mais nada) sabemos
bem a maravilha que foi o congelamento dos preços. Sabemos que
durante alguns meses os preços baixaram, que o desemprego diminuiu,
e sabemos que, depois disso tudo, a medida se mostrou um verdadeiro
desastre. Não havia mais detergente nem sabão em pó nas gôndolas.
Nem leite nem carne. Nem caro nem barato.
A teoria
do conhecimento explica que existem basicamente duas formas de o ser
humano aprender. Uma delas é pela lógica, pelas regras do
raciocínio, da corretude do pensamento, chegando às conclusões a
partir de premissas. Outra é pela experiência, pelo teste dos
sentidos, vendo, ouvindo, sentindo. Pois bem. Tanto uma quanto a
outra já provaram por a + b que controle de preços não funciona.
Mas as pessoas insistem em praticá-lo. Temos preços controlados na
grande maioria dos produtos e serviços ofertados pelo Mercado hoje
em dia.
Um bom
exemplo são os planos de Saúde. A ANS inclusive já fez uma
declaração extremamente infeliz em que dizia que “ainda não
tinha como controlar o preço dos planos, mas tinha como controlar
quais serviços deveriam ser oferecidos”. Ou seja, a agência não
só lamenta não poder determinar o preço de um plano, como também
não percebe que já o faz, ao determinar que determinado pacote deva
contemplar este ou aquele procedimento. Da última alteração que
tive notícia, a agência obrigava as operadoras de plano de saúde a
acrescentar 69 novos procedimentos, sem acréscimo dos valores
cobrados. Ora, o que é isso, senão um controle indireto dos preços?
Outra vez
ouvi pelo rádio que o governo estaria implementando um padrão de
qualidade mínima para o café. Quer dizer, o cafeicultor seria
obrigado a produzir com aquele grau de qualidade. Se não o fizesse,
poderia ser multado, e até fechar as portas. Fazer café ruim seria
proibido. O orador na tribuna explicava, em vão, que o preço do
café não seria afetado por tal medida. Ora, meus amigos, ninguém
aqui nasceu ontem. Primeiro, que repentina preocupação foi essa que
o governo teve com a qualidade do nosso cafezinho? E que absurdo é
esse de dizer que uma medida restritiva dessas não vai afetar o
preço? É óbvio que vai. É óbvio que uma medida desse tipo é
gerada por aqueles que podem implementar o tal plano de qualidade,
visando proteger-se da concorrência dos que não podem. São os
grandes que, através de lobistas, obrigam o povo a pagar mais caro,
por lei.
Dos
planos de saúde ao cafezinho, da gasolina ao sapato, da tarifa
telefônica à conta de luz, quase todos os preços no Brasil tem
algum grau (um bom grau) de controle. E o mais interessante: quando
vemos os preços subirem, nós culpamos o Mercado. E pedimos um
controle ainda maior do governo. Pedimos mais governo!
Algumas
pessoas são como crianças diante de uma tomada. Algumas acreditam
nos pais e nunca põem o dedo. Essas acreditam na lógica. Outras
precisam testar a advertência, colocam o dedo, e sentem dor pra
nunca mais. Mas tem pessoas que não aceitam nem o raciocínio nem a
experiência, e insistem em fazer o errado. Essas são problemáticas.
E, por último, tem aquelas que ao invés de colocar o dedo na tomada
pedem pra colocar o SEU dedo.
Esses são
os políticos.