quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

lobo em pele de cordeiro

Tem um monstro embaixo da cama dos brasileiros. Trata-se de uma entidade malévola, que assola a população inflingindo-lhe males terríveis, que se tornam ainda mais terríveis por serem parcamente percebidos, pois a fera usa um manto mágico que a faz parecer mais das vezes benfazeja. Esse monstro se chama Controle de Preços.

Teve uma época em que políticas de preços controlados fizeram muito sucesso no Brasil. Quando o então presidente da república José Sarney se deparou com índices de inflação na casa dos 80% ao mês, sua equipe econômica, capitaneada pelo Ministro da Fazenda Dílson Funaro, não apenas idealizou como implementou uma medida revolucionária: o congelamento geral de preços. Vale ressaltar que não foi nenhum bando de aventureiros que engendrou tal política. Estamos falando de ministros, secretários, presidentes, doutores, mestres, todos balizados pelos mais altos estudos de nossa academia.

São coisas como essa que me levam a pensar que a genialidade pode estar nas coisas mais simples da vida. Por que ninguém havia pensado nisso antes? Ora, se os preços estão subindo em disparado, se nenhuma medida consegue garantir sua estabilidade, por que não decretar, por lei, o imediato congelamento de todos eles? A medida segue o mesmo raciocínio de uma criança que pergunta por que o governo simplesmente não imprime mais dinheiro para dar aos pobres e assim acabar rapidamente com a miséria.

Todos nós, brasileiros, que vimos os “fiscais do Sarney” dedurando o aumento criminoso do preço do detergente e do sabão em pó, que vimos gerentes de supermercados serem presos, que não precisávamos mais sair correndo pra gastar o salário e comprar tudo que podíamos (porque na outra semana o salário já não valia mais nada) sabemos bem a maravilha que foi o congelamento dos preços. Sabemos que durante alguns meses os preços baixaram, que o desemprego diminuiu, e sabemos que, depois disso tudo, a medida se mostrou um verdadeiro desastre. Não havia mais detergente nem sabão em pó nas gôndolas. Nem leite nem carne. Nem caro nem barato.

A teoria do conhecimento explica que existem basicamente duas formas de o ser humano aprender. Uma delas é pela lógica, pelas regras do raciocínio, da corretude do pensamento, chegando às conclusões a partir de premissas. Outra é pela experiência, pelo teste dos sentidos, vendo, ouvindo, sentindo. Pois bem. Tanto uma quanto a outra já provaram por a + b que controle de preços não funciona. Mas as pessoas insistem em praticá-lo. Temos preços controlados na grande maioria dos produtos e serviços ofertados pelo Mercado hoje em dia.

Um bom exemplo são os planos de Saúde. A ANS inclusive já fez uma declaração extremamente infeliz em que dizia que “ainda não tinha como controlar o preço dos planos, mas tinha como controlar quais serviços deveriam ser oferecidos”. Ou seja, a agência não só lamenta não poder determinar o preço de um plano, como também não percebe que já o faz, ao determinar que determinado pacote deva contemplar este ou aquele procedimento. Da última alteração que tive notícia, a agência obrigava as operadoras de plano de saúde a acrescentar 69 novos procedimentos, sem acréscimo dos valores cobrados. Ora, o que é isso, senão um controle indireto dos preços?

Outra vez ouvi pelo rádio que o governo estaria implementando um padrão de qualidade mínima para o café. Quer dizer, o cafeicultor seria obrigado a produzir com aquele grau de qualidade. Se não o fizesse, poderia ser multado, e até fechar as portas. Fazer café ruim seria proibido. O orador na tribuna explicava, em vão, que o preço do café não seria afetado por tal medida. Ora, meus amigos, ninguém aqui nasceu ontem. Primeiro, que repentina preocupação foi essa que o governo teve com a qualidade do nosso cafezinho? E que absurdo é esse de dizer que uma medida restritiva dessas não vai afetar o preço? É óbvio que vai. É óbvio que uma medida desse tipo é gerada por aqueles que podem implementar o tal plano de qualidade, visando proteger-se da concorrência dos que não podem. São os grandes que, através de lobistas, obrigam o povo a pagar mais caro, por lei.

Dos planos de saúde ao cafezinho, da gasolina ao sapato, da tarifa telefônica à conta de luz, quase todos os preços no Brasil tem algum grau (um bom grau) de controle. E o mais interessante: quando vemos os preços subirem, nós culpamos o Mercado. E pedimos um controle ainda maior do governo. Pedimos mais governo!

Algumas pessoas são como crianças diante de uma tomada. Algumas acreditam nos pais e nunca põem o dedo. Essas acreditam na lógica. Outras precisam testar a advertência, colocam o dedo, e sentem dor pra nunca mais. Mas tem pessoas que não aceitam nem o raciocínio nem a experiência, e insistem em fazer o errado. Essas são problemáticas. E, por último, tem aquelas que ao invés de colocar o dedo na tomada pedem pra colocar o SEU dedo.

Esses são os políticos.